E outras vezes - mas sonhando -
Anjos do céu me hão levado
Nos braços, adormecido,
E entre nuvens embalado.
Eu passo vida sonhando
Sonhos de luz e de treva -
Já entre os astros brilhantes,
Já no monte, enquanto neva;
Mas nunca a sombra da terra,
Mas nunca dos céus a aurora,
Me deu sono tão estranho,
Um sonhar como este agora!
Que tenha tanta tristeza,
E uma tamanha ventura,
Tantas visões refulgentes
E tanta nuvem escura!
Entre as urzes da charneca,
Ou em seios de serafim,
Nunca me assim hei dormido,
Nunca tive um leito assim,
Como quando, entre o arvoredo,
A noite, à luz do luar,
Dorme minha alma e se embala
Num raio de teu olhar!