Tu, ao som dos teus salgueiros,
Levas as tuas areias...
Eu, ao som dos meus desgostos,
Levo estas negras ideias...
Debaixo do arco grande,
Onde a água faz remanso,
Tem paz certa qualquer triste
Que ande à busca de descanso.
O luar bate no rio;
Tem um mágico fulgor...
Não há assim véu de noiva,
Nem há mortalha melhor!
Lindas areias do rio!
Uma trás d'outra a fugir,
Vão direitas dar ao mar...
Ah! quem pudera dormir!
Quem tiver amores tristes
E andar roto a mendigar,
Dá-lhe a água um brando leito
E há-de vesti-lo o luar!
À noite, o salgueiro é negro...
Com o vento meneando,
Parecem filas de frades,
Todos em coro rezando.
Ó frade, fecha o teu livro,
Vai caminho do teu fim...
Que eu já tenho quem me enterre,
Mais quem me reze latim!