Esta proposta não se coadunava nada com a minha opinião, apesar de ser muito justa e generosa da parte da minha mãe; os meus pensamentos seguiam um rumo totalmente diferente.
Quanto a fecharmos o segredo no nosso peito e deixá-lo aí ficar, seria impossível. Perguntei-lhe, a propósito, como podia imaginar que eu suportasse a ideia, sequer, de continuar a deitar-me com o meu próprio ir- mão. Em segundo lugar, lembrei-lhe que só com ela viva poderia confirmar a minha descoberta e que, enquanto me considerasse sua filha e tivesse motivos para estar certa de que o era, ninguém ousaria pôr em dúvida essa verdade; mas, se ela morresse antes da revelação, considerar-me-iam uma atrevida que forjara tal enormidade para me separar do meu marido, a não ser que me tomassem como louca. Contei-lhe, a seguir, que o próprio filho ameaçara já internar-me num manicómio e o medo que eu tinha de tal perspectiva, medo que me levara a desabafar com ela.
Concluí que, em virtude de quanto lhe dissera e após sérias reflexões, tomara uma resolução que esperava lhe agradasse e que era um meio termo entre as nossas opiniões. Ela encarregar-se-ia de tentar convencer o filho a deixar-me partir para Inglaterra, como eu desejava, e a entregar-me uma soma suficiente, quer em mercadorias, quer em notas, para minha manutenção, dando-lhe sempre a entender que, quando quisesse, podia ir ter comigo. Depois de eu partir, restabelecida a calma e após exigir-lhe, o mais solenemente possível, que prometesse guardar segredo do que tinha a dizer-lhe, contar-lhe-ia a pouco e pouco a verdade, como entendesse aconselhável, de maneira a evitar que, colhido de surpresa, se encolerizasse e desatasse a bramar contra mim ou contra ela. Tentaria também evitar que prejudicasse os filhos ou que voltasse a casar, a não ser que tivesse a certeza da minha morte.
