Quando se acalmou um pouco, discutimos minuciosamente o que devíamos fazer antes de informar o meu marido do que se passava. Mas para quê tantas palavras? Nenhuma de nós via maneira de resolver o assunto nem sabia como apresentar-lhe tal facto. Era impossível imaginar ou prever o estado de espírito com que receberia a espantosa notícia ou o procedimento que adoptaria e, se fosse tão incapaz de se dominar que tornasse o assunto do domínio público, ambas prevíamos que isso seria a desgraça de toda a família, sobretudo a de minha mãe e a minha. Além disso, se aproveitasse as vantagens que a lei lhe dava, podia expulsar-me com desprezo e deixar-me processá-lo para reaver os poucos bens que eu tinha, e que talvez gastasse no processo, ficando a pedir esmola. As crianças ficariam também arruinadas, pois não tinham nenhum direito legal aos seus bens, e o mais certo seria vê-lo, poucos meses volvidos, nos braços de outra, ao passo que eu seria a mulher mais desgraçada da Terra.
A minha mãe avaliava como eu todos estes perigos e, por isso, continuávamos sem saber que fazer. Passado pouco tempo chegámos a conclusões mais concretas, mas, infelizmente, as nossas opiniões eram totalmente diferentes e inconsistentes. A minha mãe achava que eu devia esquecer tudo e continuar a viver com ele como marido, até que qualquer outro acontecimento tornasse mais conveniente a revelação da verdade; entre- tanto tentaria reconciliar-nos e restabelecer a nossa harmonia e a paz familiar. Devíamos entender-nos como antes, sem revelar o segredo, «pois, minha filha, estaremos ambas arruinadas se se descobre».
Para me encorajar a seguir o seu conselho prometeu-me dar-me o que pudesse e deixar-me, por sua morte, quanto lhe fosse possível, separada- mente do que deixaria a meu marido, para que, se a verdade viesse a saber- -se depois, eu não ficasse privada de recursos e pudesse manter-me e exigir justiça do meu marido.
