Olhou o dinheiro, sem o contar, meteu-o de novo na gaveta, tirou da algibeira uma chave e mandou-me abrir uma caixa de nogueira que tinha em cima da mesa e levar-lhe determinada gaveta, o que fiz. Pegou na gaveta, que continha uma grande quantidade de moedas de ouro - supus que cerca de duzentos guinéus, embora não tivesse a certeza -, segurou-me na mão e obrigou-me a metê-la dentro dela, ordenando-me que a enchesse. Relutei em fazê-lo, mas apertou a minha mão com força, empurrou-a para dentro da gaveta e obrigou-me a tirar tantos guinéus quanto pude de uma só vez.
Depois ordenou-me que pusesse as moedas no regaço, pegou na minha gavetinha e juntou o meu dinheiro ao seu, dizendo-me que o levasse todo para o meu quarto.
Relato esta história por causa da maneira divertida como decorreu e para demonstrar a despreocupação das nossas relações. Passado pouco tempo começou a pôr defeitos nas minhas roupas, nas minhas rendas e toucados e, numa palavra, a insistir comigo para que comprasse melhores, o que, diga-se de passagem, muito me agradava, embora não o desse a entender, pois nada me dava mais prazer no mundo do que boas roupas. Disse-lhe que devia poupar o dinheiro que me emprestara, pois, de contrário, não poderia pagar-lho, e ele afirmou-me, em poucas palavras, que, tendo sincero respeito por mim e conhecendo as minhas circunstâncias, me dera esse dinheiro, em vez de mo emprestar, certo de que eu o merecia pelas muitas horas de companhia que lhe proporcionara. Depois obrigou- -me a contratar criada e a ter casa e, como o amigo que viera com ele para Bath partira, convidou-me a comer consigo o que fiz de muito boa vontade, convencida de que não perderia nada com isso e de que a hospedeira não deixaria de ter o seu ganho.
