Tais pensamentos não tinham, todavia, consistência e desvaneciam-se assim que ele me procurava. A sua companhia era tão agradável que não havia melancolia que lhe resistisse e as apreensões só voltavam nas horas em que estava só.
Vivi seis anos nesta situação a um tempo feliz e infeliz, durante os quais concebi três filhos seus, mas só o primeiro sobreviveu. Embora me tivesse mudado duas vezes nesse espaço de tempo, regressei no sexto ano à minha primeira residência em Hammersmith. Foi aí que, certa manhã, tive a surpresa de receber uma carta terna, mas melancólica, do meu cavalheiro, dizendo-me que se encontrava muito doente e receoso de uma recidiva do mal que o apoquentara anos atrás. Desta vez, como a família da mulher estava em sua casa, não seria possível ter-me consigo, o que muito o contrariava, pois gostaria de que eu pudesse tratá-lo e acarinhá-lo como antes.
Fiquei muito preocupada com a notícia e impaciente por saber como as coisas corriam, mas passou cerca de uma quinzena sem novas nem mandados, o que me surpreendeu e começou a inquietar deveras. Creio poder dizer sem mentir que na quinzena seguinte quase enlouqueci, preocupada, sobretudo, por não saber onde ele estava. Ao princípio supusera que se encontrava na residência da sogra, mas mudara-me para Londres e sou- bera, por intermédio do endereço que me dera para lhe escrever e ter notícias suas, que estava numa casa em Bloomsbury, para onde, pouco antes de adoecer, fora com toda a família. A mulher e a sogra encontravam-se na mesma casa, mas aquela ignorava que vivia sob o mesmo tecto que o marido.
Não tardei a saber, também, que o seu estado era desesperado, o que, sem exagero, igualmente me desesperou. Uma noite lembrei-me de me disfarçar de criada, com uma touca redonda e um chapéu de palha, e ir bater-lhe à porta, como se tivesse sido mandada por uma senhora das vizinhanças da sua anterior residência para saber como estava Mr.
