Decorridos mais dois meses, constou-me que regressara à sua casa na cidade, mas continuei sem notícias suas.
Escrevera-lhe várias cartas, com o endereço habitual, e sabia que duas ou três tinham sido levantadas, mas não as restantes. Escrevi de novo, de maneira mais insistente, dizendo-lhe que receava ver-me forçada a visitá-lo pessoalmente, para o informar da minha situação: a renda por pagar, falta de sustento para o menino e as minhas deploráveis circunstâncias, desprovida de tudo, apesar do seu compromisso solene de olhar por mim. Fiquei com uma cópia desta carta e, verificando que a mesma permaneceu quase um mês sem ser levantada no endereço para onde a mandara, arranjei maneira de o duplicado lhe chegar às mãos, num café onde sabia que costumava ir.
Esta carta forçou-o a dar uma resposta, pela qual, além de saber que me abandonava, soube também que me escrevera algum tempo antes, aconselhando-me a regressar a Bath, Mais adiante revelarei o seu conteúdo. E verdade que nos leitos de doença as relações como as nossas são vistas de maneira diferente e com outros olhos, revelando-se com um aspecto diverso daquele com que antes as víamos. O meu amante estivera às portas da morte, a um passo da eternidade, e parece que, nessa altura, sentira verdadeiro remorso e pensara tristemente na sua passada vida de leviandade e galanice. As suas relações pecaminosas comigo, sobretudo, que eram, nem mais nem menos, um prolongado adultério, apresentaram-se-lhe no seu verdadeiro aspecto, não como até ali as encarara, e provocaram-lhe justa e religiosa repugnância.
Não posso deixar de salientar também, e deixo isto à consideração das representantes do meu sexo como advertência em tais casos de prazer, que, sempre que um sincero arrependimento sucede a semelhante pecado, e quanto maior tiver sido o afecto, maior será o ódio.
