- Voltou-se bruscamente para mim e perguntou à queima-roupa: - A senhora aceitar-me-ia?
- Não é uma pergunta leal- protestei -, depois do que disse. No entanto, para não julgar que espero apenas uma retractação, respondo-lhe desde já que não. O assunto que me trouxe aqui é muito diferente e nunca esperei que transformasse o meu pedido sério numa comédia; o meu caso e deveras lamentável.
- Mas, minha senhora, o meu caso é tão lamentável como o seu e preciso igualmente de conselho. Receio enlouquecer se não desabafar com alguém, e afirmo-lhe que não sei que fazer.
- É mais fácil aconselhar no seu caso do que no meu, senhor, muito mais fácil.
- Fale então, suplico-lhe, pois acaba de me encorajar.
- Se o seu caso é tão simples e evidente como afirma, pode divorciar-se legalmente e, depois, não lhe faltarão mulheres honestas a quem cortejar com lealdade; não somos tão poucas que tenha dificuldade em encontrar uma esposa.
- Aceitarei sinceramente o seu conselho, mas permite-me que, antes, lhe faça uma pergunta muito a sério?
- Pode fazer-me todas as perguntas, excepto a que já me fez.
- Essa resposta não serve, minha senhora, pois era precisamente a pergunta a que alude que lhe queria fazer.
- Pode fazer-me as perguntas que quiser, mas essa já respondi. Além disso, será possível que pense mal de mim ao ponto de supor que lhe responderia a tal pergunta antecipadamente? Haverá mulher que, em semelhantes condições, acredite na sua sinceridade ou imagine que possa ter outros desígnios além dos de troçar dela?
- Mas, minha senhora, não pretendo troçar de si! - afirmou. - Sou sincero, reflicta no que lhe disse.
- Vim aqui para tratar dos meus assuntos -lembrei-lhe, com certa gravidade. - Peço-lhe, pois, que me aconselhe o que devo fazer.
