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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 200
Que ninguém leia esta passagem sem reflectir seriamente no desespero de semelhante situação, na tortura de não ter amigos nem pão! Pensarão, por certo, não apenas em poupar o que têm, mas também em suplicar o auxílio do Céu e recordarão a prece daquele homem sensato que dizia: «Não me dês pobreza, Senhor, para que eu não roube!».

Lembrem-se de que um período de angústia é um período de terríveis tentações, sem que tenhamos forças para as combater. A pobreza aguilhoa-nos e a alma está desesperada de aflição: que podemos fazer?

Certa tarde, encontrando-me no último extremo (creio poder dizer sem mentir, que estava louca e delirante), incitada não sei porque espírito mau e sem saber o que fazia nem por que o fazia, vesti-me (e ainda tinha boas roupas) e saí. Posso garantir que não levava nenhum desígnio quando saí de casa, nem sabia, nem pensava aonde ia nem a quê. Mas o Demónio, que me fez sair e estendeu o engodo, guiou os meus passos, pois, repito, ignorava aonde ia e o que fazia.

Vagueando assim, ao acaso, passei pela loja de um farmacêutico, na Leadenhall Street, onde vi em cima de um banco, junto do balcão, uma pequena trouxa embrulhada num pano branco. De costas para a trouxinha encontrava-se uma criada, a olhar para cima, para o ajudante do farmacêutico, o qual, empoleirado em cima do balcão e também de costas para a porta, procurava, de vela na mão, qualquer coisa na última prateleira. Estavam ambos muito entretidos e não se encontrava mais ninguém na loja.

Era o engodo, e o Demo, que, como disse, mo estendera, incitou-me como se me falasse, pois lembro-me perfeitamente, e jamais o esquecerei, de experimentar a sensação de ouvir uma voz ordenar-me por cima do ombro: «Pega no embrulho depressa! Já, neste instante!» Acto contínuo entrei na farmácia e, de costas para a moça, como se me houvesse desviado de uma carroça que ia a passar, levei a mão atrás, peguei na trouxa e sai com ela, sem que a criada, o rapaz ou quem quer que fosse se apercebesse.

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
Página atual: 200

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7