A minha ambição era, ainda e sempre, um pouco mais.
Por fim, vencida pelas exigências do meu crime, esqueci remorsos e arrependimentos e todos os meus pensamentos se reduziram ao seguinte: talvez conseguisse uma presa mais que satisfizesse os meus desejos. A verdade é que consegui a tal presa mas cobiçava logo outra, e com tanta sane que continuava no meu triste caminho, sem coragem nem desejo de me retirar.
Assim, encorajada pelo êxito e resolvida a prosseguir na mesma senda, caí na armadilha que me estava destinada, como recompensa do género de vida que levara. Mas demorou ainda certo tempo, pois tive, entretanto, algumas aventuras bem sucedidas.
Continuei com a minha governanta, que durante algum tempo se mostrou sinceramente consternada com o infortúnio da minha camarada que perecera na forca e que, ao que parece, sabia acerca dela o suficiente para a mandar pelo mesmo caminho, o que lhe causara um grande susto.
É verdade que, depois de a saber executada sem ter aberto a boca a esse respeito, a minha governanta se sentiu tranquila e, talvez, satisfeita por ela ter sido enforcada, tanto mais que a infeliz podia ter obtido um perdão denunciando as amigas; mas, por outro lado, a perda da minha camarada e a consciência da sua generosidade ao calar o que sabia comoveram profundamente a minha governanta, que a chorou de todo o coração. Confortei-a o melhor que pude e, em troca, instigou-me a merecer ainda mais igual destino.
O exemplo, porém, tornou-me mais cautelosa, como já disse, e, além disso, não me merecia nenhuma simpatia o roubo nas lojas, sobretudo tratando-se de fanqueiros e retroseiros, tipo de negociantes que têm por costume conservar os olhos muitos abertos. Fiz uma ou duas tentativas entre os vendedores de rendas e as costureiras de chapéus de senhora e, sobretudo, numa loja onde verifiquei que se encontravam duas jovens recém-estabelecidas e que se via não terem nascido para o comércio.
