Quando o atormentavam estes remorsos, ia-se embora e passava um mês ou mais sem aparecer, mas, enquanto a seriedade do seu espírito e as boas intenções enfraqueciam, o que havia nele de corrupto fortalecia-se e trazia-o de novo, disposto a pecar. Vivemos assim algum tempo e, embora não fosse uma coisa certa, como se costuma dizer, não deixava nunca de ter gestos simpáticos e que chegavam para me manter sem trabalhar e, o que era melhor, sem me dedicar ao roubo.
Mas tudo acaba e, passado cerca de um ano, apercebi-me de que o meu cavalheiro me visitava com menos frequência e, por fim, deixou por completo de aparecer, sem qualquer zanga ou adeus. Terminou assim mais um curto período da minha vida, o qual me deu poucos benefícios e mais motivos de arrependimento.
No entanto, durante esse espaço de tempo, permaneci muito tempo em casa e, como tinha com que me manter, não me meti em aventuras até três meses depois de ele me deixar. Mas o fundo esgotou-se e, como me repugnasse começar a gastar o capital, voltei a pensar no meu velho ofício e voltei à rua. A minha primeira tentativa foi assaz feliz.
Vesti um fato muito modesto, composto de um vestido de tecido muito ordinário, avental azul e chapéu de palha, e postei-me à porta da Three Cups Inn, na St. John Street. Visto pararem por ali diversos carregadores e mensageiros e as diligências para Barnet, Totteridge e outras cidades no mesmo caminho estarem sempre naquela rua, ao entardecer, a prepararem-se para partir, resolvera tentar a minha sorte com o que se oferecesse. A tais estalagens estão sempre a chegar pessoas com embrulhos e pequenos pacotes, a fim de os mensageiros ou as diligências os transportarem para o interior, e nunca faltam mulheres - esposas ou filhas de carregadores - para tomarem conta de tais volumes, em nome das pessoas que os em- pregam.
