Repliquei-lhe que ele ria agora, mas que depois riria eu, e dominei a minha cólera o melhor que pude. Pedi ao guarda que mandasse chamar um moço de recados, o que fez, ao qual pedi me trouxesse pena, tinta e papel, mas não mo permitiram. Perguntei ao moço de recados como se chamava e onde vivia e recomendei-lhe que observasse como me tratavam e não se esquecesse, que visse como me detinham ali à força, acrescentando que precisaria do seu testemunho noutro lugar, mas que nessa altura não perderia o seu tempo. O homem disse que me serviria de todo o coração e acrescentou:
-... mas, minha senhora, se o ouvir recusar-se deixá-la partir, falarei com mais propriedade.
Voltei-me então para o dono da loja e falei-lhe nestes termos:
- O senhor sabe, na sua consciência, que não sou a pessoa que pro- cura e que nunca estive no seu estabelecimento; peço-lhe, portanto, que não me retenha mais tempo ou que me diga por que o faz.
O indivíduo mostrou-se mais agastado que antes e replicou que não faria uma coisa nem outra enquanto não achasse conveniente.
- Muito bem - volvi, dirigindo-me ao guarda e ao moço de recados -, espero que os senhores se lembrem disto noutra ocasião.
- Sim, minha senhora - prometeu o segundo.
Quanto ao guarda, o caso começou a desagradar-lhe e de boa vontade teria persuadido o fanqueiro a dispensá-lo e a deixar-me ir em paz, visto ter admitido não ser eu a pessoa em questão.
- Meu caro senhor - redarguiu-lhe o lojista, sarcástico -, é um juiz de paz ou um guarda? Confiei-lhe essa mulher; faça favor de cumprir o seu dever. - Sei qual é o meu dever e o que sou - respondeu-lhe o guarda, irritado, mas sem perder a compostura -, mas duvido que o senhor saiba o que está a fazer.
Trocaram mais algumas palavras ácidas e, entretanto, o caixeiro, atrevido e covarde quanto se pode ser, tratou-me grosseiramente, e um dos colegas, o mesmo que primeiro me agarrara, pretendeu revistar-me e começou a tocar-me.
