Saiu caro à mulherzinha a basbaquice de querer ver a rainha!
Saí da loja como se fosse arrastada pela multidão, com a qual me misturei, desemboquei na outra entrada da Bolsa e afastei-me antes de terem dado pela falta da renda. Para evitar que me seguissem, chamei uma carruagem e meti-me nela, mas, mal fechara a porta, vi a empregada da rendeira e mais cinco ou seis pessoas correrem para a rua, a gritarem como se as tivessem assustado. Não gritavam o habitual «Agarra, que é ladrão!», porque não se via ninguém a fugir, mas ouvi perfeitamente as palavras «roubada» e «renda», duas ou três vezes, e vi a rapariga torcer as mãos de desespero e correr de um lado para o outro, assustada. Como o cocheiro da carruagem que eu chamara ainda não subira para a boleia, os cavalos continuavam parados e eu sentia-me tão inquieta que tirei a renda da algibeira e me preparei para a atirar pela abertura da frente, mesmo atrás do cocheiro. Mas, para minha grande satisfação, o veículo começou a mover-se assim que o homem subiu e falou aos cavalos, afastámo-nos sem complicações e cheguei a casa com a minha presa, que valia quase vinte libras.
No dia seguinte arranjei-me outra vez, com um trajo absolutamente diferente, e fui passear pelo mesmo sítio, mas nada surgiu. Entrei por fim em St. James' Park, onde se encontravam muitas senhoras finas a passear no Mall e onde me chamou a atenção uma rapariguinha dos seus 12 ou 13 anos, acompanhada por uma irmã - assim supus, pelo menos - que devia ter cerca de 9 anos. Notei que a mais crescida tinha um belo relógio de ouro e um bom colar de pérolas e que as acompanhava um lacaio de libré. Mas, como não é costume os lacaios entrarem atrás das senhoras no Mall notei que o homem parava e que a mais crescida das meninas lhe falava, certamente a recomendar-lhe que as esperasse ali.
