Claro que, enquanto o fazia, tive o cuidado de tirar o relógio a Lady Betty, com tanta arte que nem o sentiu nem deu pela sua falta enquanto a multidão não dispersou e ela não se encontrou de novo no meio do Mall, entre as outras senhoras.
Afastei-me antes disso e disse-lhe, em tom apressado: «Tome conta da sua irmãzinha, querida Lady Betty!», como se a multidão me arrastasse e me obrigasse a despedir-me, com grande contrariedade minha.
A confusão, em tais casos, é breve e a multidão dispersa assim que o rei passa, mas, como há sempre corridas e tumultos no momento em que o monarca vai a passar, continuei a correr no meio da multidão, depois de ter feito o meu trabalho sem complicações, como se quisesse ver ao longo do trajecto, e assim cheguei à frente de todos ao fim do Mall. O soberano seguiu na direcção da Horse Guards e eu segui em frente, para a passagem que atravessava, então, a parte inferior do Haymarket. Aí meti-me numa carruagem e parti, e confesso que ainda não cumpri a minha promessa de ir visitar Lady Betty...
Nessa aventura cheguei a pensar arriscar-me a ficar com Lady Betty até ela dar por falta do relógio e, depois, fazer um grande alarido, levá-la à carruagem e acompanhá-la a casa, pois mostrara-se tão minha amiga e tão confiante, devido, sem dúvida, à naturalidade com que lhe falara de toda a sua família, que não me seria difícil levar as coisas mais longe e apanhar- -lhe, pelo menos, o colar de pérolas. Mas reflecti que, embora ela talvez não desconfiasse de mim, por ser ainda criança, outras pessoas poderiam desconfiar e, se me revistassem, estaria perdida. Achei melhor, portanto, contentar-me com o que tinha e afastar-me.
Mais tarde soube, por acaso, que, ao dar por falta do relógio, a jovem fizera grande alarido no Park e mandara o lacaio procurar-me, descrevendo- -me tão bem que o homem não tardara a perceber tratar-se da mesma pessoa que lhe falara e fizera tantas perguntas acerca das meninas.