Resolvi, por isso, regressar e ir pô-la onde a encontrara. Mas, nesse preciso momento, ouvi um homem ordenar a umas pessoas que se apressassem, pois o barco ia partir com a maré e não podiam esperar. Chamei o indivíduo e perguntei-lhe:
- A que barco pertence, amigo?
- À barcaça de Ipswich, minha senhora.
- Quando partem?
- Agora mesmo, minha senhora. Também quer ir?
- Sim, se puder esperar que vá buscar as minhas coisas - respondi-lhe.
- E onde estão elas, minha senhora?
Indiquei-lhe o nome da estalagem e ele ofereceu-se, muito delicadamente:
- Irei consigo buscá-las e trá-las-ei.
- Venha, então. - E levei-o comigo à estalagem.
Na estalagem reinava grande azáfama, pois acabavam de chegar o paquete da Holanda e duas diligências com passageiros de Londres para outro barco que partiria para a Holanda, diligências essas que regressariam no dia seguinte, desta vez com os passageiros que acabavam de desembarcar. No meio do rebuliço, quase passou despercebida a minha ida ao balcão para pagar a minha conta e dizer à estalajadeira que arranjara lugar na barcaça que ia para Londres.
Estas barcaças são embarcações grandes, com boas acomodações para o transporte de passageiros de Harwich para Londres e, embora lhes chamem barcaças, nome dado no Tamisa a pequenos barcos a remos conduzidos por um ou dois homens, podem transportar vinte passageiros e dez ou quinze toneladas de mercadorias e navegar no mar. Tudo isto eu soubera na noite anterior, ao indagar as várias maneiras de viajar para Londres.
A minha estalajadeira mostrou-se muito cortês e aceitou o dinheiro da minha despesa, mas chamaram-na no meio da balbúrdia e eu aproveitei a oportunidade para levar o indivíduo ao meu quarto, embrulhar a mala ou baú - parecia, de facto, um baú - num velho avental e entregar-lha, para a levar directamente para o barco.