Saí atrás dele, sem que ninguém nos detivesse ou fizesse qualquer pergunta. O criado holandês continuava a dormir e o patrão jantava com outros cavalheiros estrangeiros, no meio de grande alegria, o que me permitiu transportar a mala para Ipswich sem qualquer dificuldade. Como era de noite, na estalagem sabiam apenas que ia partir para Londres na barcaça de Harwich, como eu dissera à estalajadeira.
Em Ipswich tive de haver-me com os funcionários da alfândega, os quais detiveram o meu baú, como lhe chamava, e quiseram que o abrisse para o revistarem. Respondi-lhes que de boa vontade o permitiria, mas que o meu marido tinha a chave e ainda não chegara de Harwich (disse-lhes isto prevendo a hipótese de, ao revistarem a mala, encontrarem objectos de uso masculino, e não feminino; assim não estranhariam). Insistiram, no entanto, em que a abrisse e eu acabei por consentir que a arrombassem, isto é, que tirassem a fechadura, o que não foi difícil.
Não encontraram nada proibido, pois a mala fora já revistada antes, mas em contrapartida descobriram certas coisas que me deram grande satisfação, como, por exemplo, um rolo de dinheiro em pistolas francesas e alguns ducatões holandeses ou rix-dollars (Nome dado a diversas moedas de prata em circulação na Europa nos séculos XVI a XIX). O resto constava, principal- mente, de duas perucas, roupas de uso, navalhas, sabonetes, perfumes e outros artigos necessários a um cavalheiro e que passaram por ser do meu marido.
Era de manhã, muito cedo, ainda não havia luz e eu não sabia muito bem que fazer, visto não me restarem dúvidas de que seria perseguida de manhã e talvez apanhada com a mala. Resolvi, por isso, escolher outra solução. Dirigi-me abertamente a uma estalagem da cidade com o meu baú, como lhe chamava, e, depois de lhe retirar o conteúdo, não achei que o continente merecesse a minha preocupação.
