Quando chegou a minha vez de falar, disse a sua senhoria que era uma estranha em Londres, pois acabava de chegar do Norte, que me hospedara em tal parte e que, ao passar por aquela rua, entrara na oficina para comprar meia dúzia de colheres. Por sorte minha, levava uma colher de prata na algibeira, a qual lhe mostrei, explicando tratar-se da amostra para comprar outras iguais às que tinha na terra. Como não visse vivalma na oficina, batera com o pé no chão, com força, e chamara alto, e embora fosse verdade haver muita prata espalhada no estabelecimento, ninguém podia dizer que lhe tocara ou me aproximara sequer. A certa altura, no preciso momento em que chamava pelos da casa, irrompera, vindo da rua, um indivíduo que me agarrara brutalmente, mas parecia-me que, se quisesse de facto prestar um serviço ao vizinho, devia ter-se conservado à distância e observado silenciosamente, para ver se tocava nalguma coisa e poder apanhar-me em flagrante.
O senhor vereador concordou em absoluto com a minha opinião e perguntou ao indivíduo que me detivera se era verdade que eu batera com o pé. Respondeu-lhe que sim, mas que isso podia ter sido apenas por causa da sua chegada.
- Agora está a contradizer-se - interrompeu-o secamente o vereador. - Há pouco disse que esta senhora se encontrava na loja de costas para si e só o viu quando lhe caiu em cima.
Era verdade encontrar-me, de facto, parcialmente de costas para a rua, mas o género de trabalho a que me dedicava exigia que tivesse olhos em todas as direcções e, por isso, vislumbrei-o a correr para a oficina, como já disse, embora ele não o percebesse.
Depois de nos ouvir a todos, o vereador declarou ser sua opinião que o vizinho do prateiro se enganara e que eu estava inocente.