Mas, aí, tudo foi em vão, pois os outros eram mais e prevaleceram. As duas raparigas juraram que me tinham apanhado em flagrante e o júri acusou-me de roubo e entrada ilícita em casa alheia, isto é, de felonia e roubo por arrombamento.
Desfaleci, quando me deram a notícia, e, ao recuperar os sentidos, julguei que morreria de desgosto. A minha governanta foi uma verdadeira mãe para mim, lamentou-me, chorou comigo e por mim, mas nada pôde fazer para me ajudar, e, para aumentar o terror que me consumia, dizia-se por todo o lado que seria condenada à morte. Ouvia-as falar no caso, em grupinhos, abanarem a cabeça e dizerem que lamentavam, como é costume em tais casos; mas ninguém me falava francamente e me dizia o que pensava. Até que um dos carcereiros me procurou em segredo e me disse, com um suspiro:
- Bem, Mrs. Flanders, será julgada na sexta-feira (estávamos já na quarta-feira). Que tenciona fazer?
Fiquei branca como um fantasma e repliquei:
- Deus sabe o que farei, pois pessoalmente ignoro-o.
- Não a iludirei, Mrs. Flanders; acho que deve preparar-se para morrer, pois duvido que a degredem. Como dizem que é delinquente antiga, não deve contar com muita piedade. Afirmam que o seu caso é simples e que as testemunhas são inflexíveis, não havendo, portanto, nada a esperar.
Foi uma punhalada em pleno peito para quem se sentia, como eu, oprimida sob tão grande peso, e durante muito tempo não fui capaz de proferir palavra. Por fim, rompi em pranto e perguntei-lhe:
- Que hei-de fazer, Mr.... ?
-Que há-de fazer? Mande chamar o capelão, mande chamar um sacerdote e fale com ele, pois, Mrs. Flanders, a não ser que tenha amigos muito poderosos, está perdida para o mundo.
Era franco, sem dúvida, mas muito duro para mim, ou pelo menos assim pensei então.