Isto pode parecer inconsistente e fora do âmbito deste livro; creio até que muitos daqueles que se têm divertido e agradado com a narrativa da parte perversa e pecaminosa da minha história se aborrecerão com esta, que é, no entanto, a melhor parte da minha vida, a que me foi mais benéfica e é mais instrutiva para os outros. Mas espero que esses leitores me concedam a liberdade de contar a minha história completa. Seria cruel dizer que não se congratulam tanto com o arrependimento como com o crime e que preferiam que a narrativa fosse uma tragédia total, como esteve quase a ser.
Mas deixai-me prosseguir. Na manhã seguinte verificou-se uma triste cena na prisão. A primeira coisa que ouvi, ainda muito cedo, foi o dobrar lamentoso do grande sino da Igreja do Santo Sepulcro. Assim que os primeiros dobres se ouviram, ergueu-se um grande alarido de choros e gemi- dos do covil dos condenados, onde se encontravam seis pobres almas que seriam executadas naquele dia, umas por um crime, outras por outro e duas delas por homicídio.
Seguiu-se um clamor confuso, proveniente de vários tipos de presos, exprimindo todos o seu desgosto pelas desgraçadas criaturas que iam morrer, mas cada um de sua maneira. Uns choravam pelos condenados, outros aclamavam e desejavam-lhes boa viagem, outros amaldiçoavam e rogavam pragas aos que os haviam conduzido a tal extremo - isto é, as testemunhas e os queixosos -, muitos lamentavam-nos e alguns, mas muito poucos, rezavam por eles.