O que tinha, com certeza, era a mercê de dispor de mais tempo para me arrepender e rogava-me, por isso, que não o desperdiçasse.
As suas palavras, embora muito acertadas, entristeceram-me o coração, como se devesse esperar, embora ele não tivesse certeza nenhuma a esse respeito, que o caso teria, apesar de tudo, um desfecho trágico. Nada lhe perguntei nessa altura, mas disse-me que faria o possível para levar as coisas a bom termo e esperava consegui-lo, sem no entanto me dar muitas esperanças. Tinha razão, como viria a verificar-se.
Cerca de quinze dias depois comecei a sentir justas apreensões de ser incluída na próxima lista da morte, e só com grande dificuldade e, no fim, graças a uma humilde súplica de degredo, escapei da forca, tão má era a minha reputação e tão nefasto o fatal estigma de ser delinquente antiga, embora, neste último aspecto, não fossem justos, pois eu não era, no sen- tido da lei, uma delinquente antiga, fosse o que fosse aos olhos do juiz, pois nunca tinha sido julgada antes. Os juízes não podiam acusar-me disso, mas o escrivão apresentou o meu caso como lhe agradou.
Tinha agora uma certeza de vida, com a condição de ser degredada, o que era duro, mas menos que a morte. Não faço, portanto, comentários acerca dessa sentença nem da escolha que tive de fazer; todos nós escolhe- mos tudo de preferência à morte, especialmente quando, como no meu caso, as perspectivas do que há depois dela são inquietantes.
O bom sacerdote, cujo interesse por mim, embora não me conhecesse de lado nenhum, me obtivera a prorrogação, lamentou sinceramente o sucedido, pois confessou-me que tivera esperanças de que acabaria os meus dias sob a influência da boa doutrina e não me encontraria de novo entre gente tão desgraçada como a que geralmente é deportada.