Se, em tal companhia, não voltasse a ser tão pecadora como antes, deveria agradecê-lo, sem dúvida, a grande graça de Deus.
Não falo há muito na minha governanta, a qual, durante quase todo este tempo, se não durante todo, esteve gravemente enferma e, encontrando-se, pela sua doença, tão perto da morte como eu pela minha sentença, se mostrou sempre muito arrependida e penitente. Não a vi, por isso, mas, assim que melhorou e pôde sair, foi ver-me.
Contei-lhe o que se passara e as diferentes marés de esperanças e temores que me haviam avassalado, a maneira como escapara e em que termos, e foi na sua presença que o sacerdote exprimiu os seus receios de que, ao ver-me na companhia dos desgraçados que geralmente cumprem pena de degredo, recaísse nos pecados antigos. Confesso que eu própria receava, melancolicamente, essa possibilidade, pois conhecia o tipo de gente em cuja companhia partiria. Disse à minha governanta que os receios do sacerdote não eram infundados e ela redarguiu-me:
- Pois sim, minha filha, mas espero que não seja tentada com semelhante exemplo.
Assim que o padre nos deixou, recomendou-me que não desanimasse, pois talvez se arranjasse maneira de me libertar. Depois me falaria nisso, prometeu.
Observei-a atentamente e, como a achasse mais alegre do que de costume, invadiram-me, em tropel, mil esperanças de liberação, mas, por mais que pensasse, não me ocorria maneira nenhuma de as realizar, nenhum método que me parecesse viável. Era talo meu interesse, porém, que não a deixei partir sem se explicar, o que, embora com muita relutância e instigada pela minha insistência, acabou por fazer em poucas palavras:
- Não é verdade que tem dinheiro? Já conheceu alguém na sua vida que, ao ser deportado, tivesse cem libras na algibeira?
Não tardei a percebê-la, mas disse-lhe que deixava tudo ao seu cuidado, pois não via motivos para esperar outra coisa além da firme execução da sentença, tanto mais que a severidade da mesma era considerada um acto de misericórdia.