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Capítulo 2: A vida amorosa de Moll Flanders

Página 318
Aliás, como facilmente compreenderia, triste e fria recepção me dispensa- riam se os visitasse na desgraçada condição de deportada. Portanto, se para lá seguisse, estava resolvida a não os procurar; mas, se fosse meu destino ir, tinha muitos projectos que tornariam menos angustiosa a minha sorte, e se ele também tivesse de ir, ensinar-lhe-ia a proceder de maneira a nunca ser servo de ninguém, sobretudo se, como parecia, não lhe faltava dinheiro, que era o único amigo útil em tais situações.

Sorriu e observou que não me dissera que tinha dinheiro, mas interrompi-o e declarei esperar que não deduzisse das minhas palavras que esperava algum auxílio da sua parte, se o possuísse. Embora eu própria não tivesse muito, nesse capítulo estava tranquila e disposta a ajudá-lo, e não a esperar ajuda sua, pois sabia que, no caso de ser degredado, todo o que tivesse lhe seria útil.

Respondeu-me, delicadamente, que não tinha muito dinheiro, mas que nunca mo negaria se dele precisasse e, jurava-me, não quisera dizer o que eu supusera. Interessava-lhe apenas o que eu insinuara ser possível conseguir antes de partir, pois aqui saberia o que fazer e lá seria o desgraçado mais ignorante e desesperado.

Afirmei-lhe que se atormentava e aterrorizava sem motivo; que, se tinha dinheiro, como dizia, não só conseguiria evitar a servidão, que era a suposta consequência do degredo, como também recomeçaria a vida partindo de novos alicerces; que uma pessoa como ele não podia deixar de ser bem sucedida, bastando para isso, apenas, a aplicação e o afinco vulgares em tais casos, e que devia lembrar-se de que eu própria lhe recomendara esse caminho muitos anos atrás, para nossa mútua subsistência e restauro da nossa fortuna. Acrescentei que, para o convencer da certeza do que dizia e do meu conhecimento perfeito do método a adoptar, assim como da minha confiança nas probabilidades de êxito, me libertaria primeiro eu própria da necessidade de partir e, depois, iria livremente com ele, por meu desejo pessoal, e talvez levasse comigo o suficiente para lhe provar que não o fazia por não poder viver sem o seu auxílio, mas por achar que os nossos mútuos infortúnios tinham sido suficientes para que ambos desejássemos abandonar aquela parte do mundo e ir viver onde ninguém pudesse censurar-nos o passado, onde não temêssemos o espectro da prisão ou as angústias de uma cela de condenados, onde pudéssemos olhar para trás, para todos os nossos passados tormentos, com a infinita satisfação de sabermos que os nossos inimigos nos esqueceriam e que poderíamos viver como gente nova num mundo novo, sem ninguém ter nada que nos dizer nem nós termos que dizer a ninguém.

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Capa do livro A Vida Amorosa de Moll Flanders
Páginas: 359
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Os capítulos deste livro:
Prefácio 1
A vida amorosa de Moll Flanders 7