Empreguei tantos argumentos e rebati tão eficazmente todas as suas apaixonadas objecções que acabou por me abraçar e dizer que se sentia comovido com a sinceridade e afecto com que o tratava, que seguiria o meu conselho e se esforçaria por se resignar ao seu destino na esperança de gozar o consolo da minha companhia, a bênção de uma conselheira tão leal e de uma tão compreensiva companheira de infortúnio. Mas não deixou, mesmo assim, de insistir no que eu mencionara antes, isto é, na possibilidade de se libertar antes de partir; seria muito melhor, afirmou, não ter sequer que embarcar. Respondi-lhe que verificaria que não deixaria de fazer tudo quanto me fosse possível nesse sentido e que, se não resultasse, o resto não falharia, com certeza.
Despedimo-nos, após tão longa conferência, com tais testemunhos de ternura e afecto que me pareceram iguais, se não superiores, aos transportes da nossa separação em Dunstable. Agora compreendia claramente por que motivo se esquivara então a acompanhar-me para além de Dunstable e por que motivo, também, ao separarmo-nos, me dissera não ser convenientes para si aproximar-se de Londres na minha companhia, como gostaria. Já observei que a sua vida daria uma história muito mais agradável que a minha e acrescento agora não haver nela nada mais estranho que o facto de ter desempenhado o desesperado papel de salteador durante vinte e cinco longos anos sem nunca ser apanhado; tal êxito era tão invulgar e tão grande que lhe permitira, algumas vezes, retirar-se um ano ou dois para determinado lugar e viver sem preocupações, com um criado para o servir. Muitas vezes se sentara, também, em cafés e ouvira as próprias pessoas que roubara contarem o facto, o local e as circunstâncias, o que lhe permitia identificá-la facilmente.
