Recomendou-me também que lhe garantisse que não serão tratados como ao princípio esperavam, mas com as mesmas regalias dos outros passageiros.
O imediato dirigiu-se-me então e, sem me deixar agradecer ao contramestre a sua bondade, confirmou o que ele dissera e acrescentou ter o capitão muito prazer em ser generoso e amável, especialmente para os infortunados. Mostrou-me em seguida vários camarotes construídos na grande cabina e outros separados por tabiques, fora da entreponte, mas a abrir para a grande cabina, destinados à acomodação de passageiros, e autorizou-me a escolher o que quisesse. Escolhi um que abria para a entreponte, onde havia bastante espaço para arrumar as nossas caixas e a arca, além de uma mesa para comermos.
O imediato acrescentou que o contramestre dissera tão boas palavras a meu respeito, do meu marido e do nosso comportamento de pessoas educadas, que recebera ordens para que comêssemos com ele, se quiséssemos, durante toda a viagem, como os outros passageiros. Podíamos, se desejássemos, embarcar provisões frescas ou, então, compartilhar as suas. Foram notícias deveras animadoras, como compreendereis, depois de tantos trabalhos e angústias. Agradeci-lhe, disse-lhe que o capitão devia informar-nos das condições em que nos prestava tão grandes favores e pedi-lhe autorização para ir dar a agradável novidade ao meu marido, que não se sentia muito bem e se encontrava ainda recolhido. O meu marido, cujo ânimo estava ainda muito abalado pela indignidade (assim considerava) sofrida, ficou tão contente quando lhe comuniquei as condições em que viajaríamos que pareceu logo outro homem e o seu rosto exprimiu, acto contínuo, novo vigor e nova coragem. É uma grande verdade que os maiores espíritos, quando avassalados pela angústia, estão sujeitos ao maior desânimo e são os mais susceptíveis de desesperar e de se deixarem vencer pela desgraça.
