Depois de esperar uns momentos para se refazer da emoção, o meu marido foi comigo agradecer ao contramestre a amabilidade com que nos tratara e, por seu intermédio, agradeceu também ao capitão, prontificando-se a pagar antecipadamente o que desejasse pela nossa passagem e pelas comodidades que nos proporcionara. O contramestre informou-o de que o capitão viria para bordo à tarde e, portanto, se trataria de tudo nessa altura. O capitão chegou, de facto, à tarde e verificámos tratar-se do homem cortês e generoso que o contramestre dissera. Mostrou-se tão contente com a maneira de falar do meu marido que não consentiu ficássemos no camarote que escolhêramos e nos mudou para um dos que davam para a grande cabina.
As suas condições não foram, de maneira nenhuma, exorbitantes, nem se mostrou desejoso de nos explorar, pois por quinze guinéus pagámos a passagem, as provisões e o camarote, comemos à sua mesa e fomos muito bem tratados.
O capitão dormia do outro lado da grande cabina, pois cedera o seu camarote de tombadilho, como lhe chamam, a um grande plantador que viajava com a mulher e três filhos, os quais comiam à parte. Levava mais alguns passageiros vulgares, instalados na entreponte, e os nossos companheiros de infortúnio viviam encerrados no porão, enquanto o barco permanecia ancorado, e vinham poucas vezes ao convés.
Não me contive que não contasse o que nos acontecera à minha governanta, pois ela, que tanto se inquietara por minha causa, merecia partilhar a minha boa fortuna. Além disso, desejava que me mandasse determinadas coisas que, antes, tivera acanhamento de levar; agora, em virtude de ter um camarote e espaço para as acomodar, não fazia sentido que delas prescindisse. Encomendei-lhe, portanto, muitas coisas boas para nosso conforto na viagem, como açúcar, brande, limões, etc.
