Havia, porém, outra dificuldade: se me mudasse para outra colónia, não me seria possível investigar convenientemente o que se referia ao legado que a minha mãe me deixara. Não podia pensar sequer em revelar o segredo do meu anterior casamento ao meu actual marido; não se tratava, supunha, de coisa que se pudesse contar e eu não fazia ideia de quais seriam as consequências, se a contasse. Por outro lado, era-me impossível averiguar bem a questão sem tornar público em toda a colónia não só quem fora, mas também quem era agora.
Continuei nesta perplexidade durante muito tempo, o que inquietava deveras o meu marido, pois pensava que, apesar da minha preocupação, não era franca com ele e não lhe contava tudo. Por vezes dizia, tristemente, não saber o que fizera para que não lhe confiasse a verdade, sobretudo se era, como supunha, dolorosa e inquietante. Na realidade, era digno de absoluta confiança, pois jamais houve homem no mundo que merecesse tanto da mulher; tratava-se, porém, de assunto tão melindroso que eu não sabia como abordá-lo, embora me pesasse no espírito não ter com quem desabafar. Diga-se o que se disser acerca da incapacidade do nosso sexo para guardar um segredo, a minha vida é um exemplo flagrante do contrário. Mas quando existe um segredo, e seja a pessoa que o guarda do sexo fraco ou do sexo forte, há sempre a aspiração de encontrar um confidente, um peito amigo a quem confiar a alegria ou a tristeza inerentes a esse segredo, pois, de contrário, o seu peso aumenta e pode, até, tornar-se insuportável. Tenho a certeza de que todos concordam comigo a este respeito.
É por isso que muitas vezes os homens, e as mulheres também, apesar de possuidores das maiores qualidades e virtudes, são fracos neste aspecto, não conseguem guardar só para si o peso de uma secreta alegria ou de um secreto desgosto e são forçados a trair o segredo que guardavam, que mais não seja para desabafarem, para libertarem o espírito do peso que o oprimia.
