- Minha querida, por que te surpreenderam tanto as minhas palavras? - perguntou, ao ver-me refeita. - Gostava que reflectisses seriamente nelas. Já viste como a família reage e por certo compreendes que ficariam furiosos se se tratasse de mim em vez do meu irmão. Podia ser a minha ruína e a tua também.
- Queres dizer que a posição da família basta para reduzir a nada todas as tuas juras e protestos de amor? - perguntei, fora de mim. - Não te lembrei eu própria, tantas vezes, a possibilidade da sua desaprovação e não a encaraste tu de ânimo leve, como se estivesses acima dessas coisas e não lhes ligasses importância? E chegámos a isto, agora! E esta a tua lealdade e a tua honra, o teu amor e a solidez das tuas promessas?
Manteve-se absolutamente calmo, apesar das minhas censuras - e não as poupei! -, e por fim respondeu-me:
- Minha querida, não quebrei ainda uma única das promessas que te fiz. Disse-te que casaria contigo quando recebesse a minha herança, mas bem vês que o meu pai é um homem vigoroso e saudável e pode viver ainda trinta anos sem parecer mais velho que muitos conhecidos nossos. Tu própria nunca pretendeste casar comigo antes disso, por saberes que podia ser a minha ruína, e, quanto ao resto, cumpri tudo quanto prometi, nada te faltou.
Não pude negar uma única das suas palavras nem soube o que responder-lhe.
- Mas como podes querer persuadir-me a dar o horrível passo de te deixar, se tu não me deixaste? - perguntei.
- Não admites que haja algum afecto, amor do meu lado, quando houve tanto do teu? Não te retribui nada do que me deste? Não te dei provas da minha sinceridade e da minha paixão? O sacrifício da honra e do pudor que te fiz não prova que estou ligada a ti por laços tão fortes que é impossível quebrá-los?
- Mas, minha querida, agora tens ao teu alcance uma situação que te dará segurança, honra e esplendor e permitirá que a recordação do que fizemos se afunde no eterno silêncio, como se nada tivesse acontecido.