Terás sempre o meu respeito e a minha sincera afeição, mas uma afeição que será honesta e absolutamente justa para o meu irmão; serás a minha querida irmã, como agora és a minha querida...
Calou-se bruscamente, mas eu completei a frase por ele:
- A tua querida prostituta, terias dito, se continuasses e poderias, de facto, dizê-lo. Mas eu compreendo-te. Desejo, no entanto, que recordes os longos sermões que me pregaste e o grande trabalho a que te deste para me persuadires a acreditar que era uma mulher honesta, que era intencionalmente a tua esposa, embora não o fosse aos olhos do mundo, e que o nosso casamento era tão verdadeiro como se o pároco da freguesia nos tivesse casado publicamente. Sabes, e com certeza não o esqueceste, que foram estas as tuas próprias palavras.
Achei que estava a ser, talvez, demasiado branda com ele, mas remediei isso com o que a seguir lhe disse. Ficou imóvel e silencioso durante alguns momentos e eu prossegui:
- Não podes, sem cometer a maior das injustiças, pensar que cedi a todas as tuas persuasões sem um amor sincero e inquebrantável, capaz de resistir a tudo quanto viesse depois. Se tens a meu respeito pensamentos tão ignominiosos, devo perguntar-te que motivos te dei, no meu comportamento, para os albergares em ti. Se então cedi à insistência do meu afecto e me deixei persuadir de que sou na realidade, e na essência, tua esposa, deverei agora rebater todos esses argumentos e considerar-me tua barregã, ou amante, que é a mesma coisa? E poderás tu transferir-me para o teu irmão? Poderás transferir para ele o meu afecto? Poderás ordenar-me que deixe de te amar e o ame a ele? Julgarás que está na minha mão fazer tal mudança, porque as circunstâncias o aconselham? Não, não e não! É impossível, e, seja qual for a mudança da tua parte, eu serei sempre fiel.
