No primeiro encontro a minha amiga levou a vingança tão longe quanto lhe apeteceu. Disse-lhe que não sabia por quem a tomava, ao julgá-la capaz de tratar com um homem um assunto tão sério como o casamento sem se informar muito bem a seu respeito; que, se pensava que casaria de qualquer maneira e estava nas mesmas condições que as vizinhas, isto é, obrigada a aceitar o primeiro bom cristão que lhe aparecesse, se enganava; que, numa palavra, a fama dele era muito má, ou estava muito mal visto pela vizinhança; e que, se não esclarecesse certos pontos que a haviam justamente indignado, nada mais tinha a dizer-lhe, a não ser provar-lhe que não tinha medo de dizer «não», a ele ou a outro qualquer.
Contou-lhe em seguida o que ouvira - ou, melhor, os boatos que ela própria espalhara por meu intermédio - acerca do seu carácter, de não ter pago a parte que pretendia ser sua no barco que comandava, da resolução dos armadores de lhe tirarem o comando e o darem ao imediato e do escândalo a respeito da sua imoralidade, pois acusavam-no de ter andado com tal e tal mulher, de ter uma esposa em Plymouth e outra nas índias Ocidentais, etc. Perguntou-lhe se ela não tinha boas razões para o recusar se estas coisas não fossem esclareci das e insistir nesse esclarecimento.
O homem ficou tão confuso com o seu discurso que não foi capaz de dizer palavra, e ela quase começou a crer que todas as acusações eram verdadeiras, embora soubesse que fora ela mesma quem as inventara.
Passado algum tempo o pobre rapaz recompôs-se um pouco e, daí em diante, não houve homem mais humilde, mais modesto e mais assíduo na sua corte.
A minha amiga levou a zombaria muito longe. Perguntou-lhe se a julgava em tão más circunstâncias que pudesse ou devesse tolerar tal tratamento, e se não via que ela não queria aqueles que achavam valer a pena ir mais longe, a seu respeito, que ele - referia-se, evidentemente, ao cavalheiro a quem pedira que a visitasse.
