Em resumo, não teve cara para lhe fazer mais perguntas acerca dos seus bens, e ela aproveitou-se disso, como mulher sensata que era, para colocar parte da sua fortuna a render, sem ele saber nem à mesma ter acesso, ficando muito satisfeito com o que apanhou.
É verdade que a situação financeira da minha amiga era invejável, pois tinha cerca de mil e quatrocentas libras em dinheiro, que lhe deu, falando-lhe mais tarde do resto como sendo uma renda sua, o que ele considerou um grande auxílio, pois, embora não lhe pudesse tocar, sempre poupava alguma coisa nas despesas pessoais da mulher. Devo acrescentar que, graças a esta conduta, o cavalheiro se tornou não só humilde nas suas pretensões para a conquistar para esposa, como também, depois de casado, foi um marido delicado e atencioso. Não posso, por isso, deixar de lembrar às senhoras que me lêem que elas próprias se colocam muito abaixo da condição natural de esposas - que, se me permitem a franqueza, já de si é muito baixa - e que dão origem a mortificações futuras por se resignarem de antemão às ofensas dos homens, do que, confesso, não vejo necessidade.
Que o que contei sirva, portanto, para as senhoras verem que a vantagem não está tão do outro lado como os homens pensam e que, seja embora verdade terem eles muito por onde escolher e haver mulheres capazes de se desonrarem, de serem mesquinhas e acessíveis e de quase não espera- rem que as peçam para dizer «sim», mesmo assim, para que as suas esposas sejam, digamos, dignas de possuir, têm de encontrar dificuldades em conquistá-las. As outras, depois de conquistadas, revelam deficiências que só servem para recomendar as esquivas e desencorajar os homens das conquistas fáceis, mostrando-lhes que as que se rendem à primeira tentativa não são tão valiosas como as difíceis.
