A esposa do capitão meteu-me, pois, essa ideia na cabeça e disse-me que, se me deixasse guiar por ela, encontraria com certeza um marido rico e não lhe daria motivos para me censurar a minha pobreza. Respondi-lhe, como era lógico, que me entregava nas suas mãos e que, em semelhante assunto, não teria língua para falar nem pés para andar a não ser de acordo com as suas instruções, confiante em que saberia tirar-me de qualquer dificuldade em que, por causa delas, me metesse, com o que concordou.
A primeira coisa que me recomendou foi que lhe chamasse prima e fosse para casa de uma pessoa da sua família, na província, aonde foi depois visitar-me com o marido. Sempre a chamar-me prima, arranjou as coisas de maneira que ela e o esposo acabaram por me convidar, com muito empenho, a passar uns tempos com eles, na cidade, pois agora viviam num lugar muito diferente do anterior. Em seguida disse ao marido que eu tinha pelo menos mil e quinhentas libras de fortuna e que, segundo certos familiares, era possível que tivesse muito mais que isso.
Foi o bastante fazer essa confidência ao marido; eu não precisei de fazer nada. O meu papel resumiu-se a aguardar os acontecimentos e, de facto, não tardou a espalhar-se pelas vizinhanças que a jovem viúva que estava em casa do capitão... era rica, que tinha pelo menos mil e quinhentas libras, ou talvez muito mais, e que fora o próprio capitão que o dissera. Se interrogavam o marido da minha amiga a tal respeito, ele não tinha escrúpulos em confirmar o boato, embora soubesse apenas o que a mulher lhe dissera. Não havia malícia da sua parte, pois acreditava sinceramente que era verdade, visto a mulher lho ter dito: a estes indivíduos basta-lhes pensar que há uma fortuna em causa para não quererem saber de mais nada.
