Tirou-me o anel e acrescentou:
A virtude, só, é um tesouro.
De novo lhe pedi o anel e de novo escrevi:
Mas o dinheiro é virtude, destino o ouro.
Corou violentamente ao ver com que celeridade lhe ripostava e, sacudido por uma espécie de cólera, afirmou que me conquistaria e escreveu nova- mente:
Desprezo o vosso ouro e juro-vos amor.
Arrisquei tudo, instigada pelo último verso, e escrevi, ousada:
Sou pobre: que dizeis agora, senhor?
Era uma triste verdade, ai de mim!, mas não sei se acreditou, se não, embora, na ocasião, me inclinasse mais para a última hipótese. Fosse como fosse, correu para mim, tomou-me nos braços e, beijando-me ardentemente, com a maior paixão que se possa imaginar, apertou-me ao peito e, no fim, pediu-me pena e tinta, disse que escrever no vidro o impacientava, por ser muito moroso, e escreveu num papel:
Sede minha, com toda a vossa pobreza!
Peguei na pena e acrescentei, sem hesitar:
No íntimo, esperais que minta, com certeza.
Disse-me que estava a ser injusta e cruel e a obrigá-lo a contradizer-me, o que não se coadunava com as boas maneiras e muito menos com o seu afecto por mim. Mas, já que insensivelmente o arrastara para aquele garatujar poético, rogava-me que não o obrigasse a interrompê-lo. Por isso escreveu de novo:
Que o nosso debate seja de amor somente.
Ripostei:
Aquela que não odeia ama o suficiente.
Considerou um favor as minhas palavras e depôs as armas, isto é, a pena. Mal sabia ele como o favor era grande! Contudo, interpretou o verso como eu queria, ou seja, pensou que estava inclinada a levar as coisas por diante com ele, como aliás tinha todos os motivos para desejar, pois era o indivíduo mais alegre e mais gentil que já conheci.