Então, deslizou silenciosamente de volta ao quarto, voltando a deitar-se na cama. Mas sentia uma dor aguda no alto da cabeça, como se esta lhe fosse estalar. Assim, não conseguia dormir nem estar quieto. Decidindo, pois, levantar-se, vestiu-se com todo o cuidado, evitando fazer barulho, e voltou a sair para o patamar. As mulheres estavam agora em silêncio. Descendo cautelosamente as escadas, dirigiu-se então até à cozinha.
Uma vez aí, calçou as botas, pôs o sobretudo e pegou na espingarda. Não que tenha pensado em se afastar da quinta. Apenas pegou na espingarda, nada mais. Tão silenciosamente quanto possível, abriu a porta e saiu para o exterior, mergulhando assim no frio glacial daquela noite de Dezembro. Estava um ar parado, com as estrelas a cintilarem lá no alto por sobre os picos acerados dos pinheiros, recortando-se, sussurrantes, contra o céu límpido e claro. Dirigindo-se furtivamente para junto de uma sebe, olhou em volta à procura de caça. Porém, lembrou-se de repente de que não devia disparar para não assustar as mulheres.
Assim, ladeando os montes de tojo, cortando depois através do matagal por entre velhos e altos azevinhos, foi vagueando por aqui e por ali, aproximando-se insensivelmente do bosque. Aí, contornando a sebe, pôs-se de atalaia, perscrutando a escuridão com olhos tão dilatados e brilhantes como os de um gato, simultaneamente negros e luzidios, capazes de penetrarem as trevas com tanta acuidade como se fosse dia. Um mocho piava monótona e lastimosamente junto de um velho carvalho. Avançando devagar, pé ante pé num passo furtivo, a espingarda bem firme na mão, ele seguia atento, ouvido à escuta, alerta ao menor ruído.