Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: CAPÍTULO X

Página 181
E o Silvério sorria, com bondade:

- Nada, este é sãozinho... Coitado, assim amarelito e enfezadito porque... Que quer Vossa Excelência? Mal comido, muita miséria... Quando há o bocadito de pão aquilo é para o rancho. Muita fomezinha, muita fomezinha.

Jacinto pulou bruscamente da borda do carro. - Fome? Então ele tem fome? Mas há aqui fome? Os seus olhos rebrilhavam, num espanto comovido, em que pediam, ora a mim, ora ao Silvério, a confirmação desta miséria insuspeitada. E fui eu que esclareci o meu Príncipe:

- Está claro que há fome, homem! Tu imaginavas que o Paraíso se tinha perpetuado aqui nas serras, sem trabalho e sem miséria... Em toda a parte há pobres, mesmo na Austrália, nas minas de ouro. Onde há trabalho há proletariado, seja em Paris, seja no Douro...

O meu Príncipe teve um gesto, de aflita impaciência: - Eu não quero saber o que há no Douro. O que eu pergunto é se aqui, em Tormes, na minha quinta, dentro destes campos que são meus, há gente que trabalhe para mim, e que tenha fome, e criancinhas, como esta, esfomeadas? É o que eu quero saber.

O Silvério sorria, respeitosamente, perante aquela cândida ignorância das realidades da serra:

- Pois está bem de ver, meu senhor, que há aqui na quinta caseiros que são muito pobrinhos - quase todos. Isso vai por aí uma miséria, que se não fosse alguma ajuda que se lhes dá, nem eu sei... Este Esgueira, com o rancho de filhos, é uma desgraça... Havia Vossa Excelência de ver as casitas em que eles vivem... São chiqueiros. A do Esgueira, acolá, ao pé da figueira.

- Vamos ver essa! - atalhou Jacinto, com uma decisão exaltada. E saiu logo do alpendre, sem atender à chuva, que ainda caía, mais leve e mais rala. Mas então Silvério alargou os braços diante dele, com ansiedade, como para o salvar de um precipício.

<< Página Anterior

pág. 181 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Cidade e as Serras
Páginas: 238
Página atual: 181

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 26
CAPÍTULO IV 41
CAPÍTULO V 62
CAPÍTULO VI 75
CAPÍTULO VII 88
CAPÍTULO VIII 105
CAPÍTULO IX 144
CAPÍTULO X 177
CAPÍTULO XI 188
CAPÍTULO XII 195
CAPÍTULO XIII 201
CAPÍTULO XIV 212
CAPÍTULO XV 220
CAPÍTULO XVI 223