- Que é?
A mulher cerrara a porta, e vindo junto dela, baixo:
- Então a senhora ainda não decidiu nada?
Luísa sentiu como uma pancada no estômago.
- Ainda não pude arranjar nada...
Juliana esteve um momento a olhar para o chão:
- Bem - murmurou, por fim.
E Luísa ouviu-a, no corredor, dizer alto:
- Isto quando o senhor voltar é que são os ajustes de contas!
Quando Jorge voltasse! Imediatamente no seu espírito, que se tinha pouco a pouco serenado, todos os sustos, as angústias estremeceram de novo àquela ameaça - assim uma rajada súbita põe em convulsão um arvoredo. Devia, pois, fazer alguma coisa antes que ele chegasse! Justamente Jorge escrevera-lhe, que não se demoraria, que a avisaria pelo telégrafo... Desejava, agora, que do ministério o mandassem fazer uma viagem mais longe, pela Espanha ou pela África; que alguma catástrofe, sem lhe fazer mal, o retardasse meses!...
Que faria ele, se soubesse? Matá-la-ia? Lembravam-lhe as suas palavras muito sérias, naquela noite, quando Ernestinho contara o final do seu drama... Metê-la-ia numa carruagem, levá-la-ia a um convento? E via a grossa portaria fechar-se com um ruído funerário de ferrolhos, olhos lúgubres estudá-la curiosamente...
O seu terror irraciocinado fizera-lhe mesmo perder a idéia nítida de seu marido; imaginava um outro Jorge sanguinário e vingativo, esquecendo o seu caráter bom, tão pouco melodramático. Um dia foi ao escritório, tomou a caixa das pistolas, fechou-a num baú de roupa velha, e escondeu a chave!...
Uma idéia amparava-a: era que apenas Sebastião viesse de Almada, estava salva; e apesar daquela agonia miúda de todos os momentos, quase receava saber que ele tivesse chegado - tanto a confissão da verdade lhe parecia uma agonia maior! Foi por esse tempo, então, que lhe veio uma lembrança - escrever a Basílio.