CAPÍTULO X Nesse dia pela uma hora Jorge e Luísa acabavam de almoçar, como na véspera da partida dele. Mas agora não pesava a faiscante inclemência da calma; as janelas estavam abertas ao sol amável de outubro; já passavam no ar certas frescuras outonais; havia uma palidez meiga na luz; à tardinha já sabiam bem os paletós; e tons amarelados começavam a envelhecer as verduras.
- Que bom achar-se a gente outra vez no seu ninho! - disse Jorge, estirando-se na voltaire.
Estivera contando a Luísa a sua viagem. Tinha trabalhado como um mouro, e tinha ganho dinheiro! Trazia os elementos de um belo relatório; criara amigos naquela boa gente do Alentejo; estavam acabadas as soalherias, as cavalgadas pelos montados, os quartos de hospedaria; e ali estava enfim na sua casinha. E como na véspera da sua partida, soprava o fumo do cigarro, cofiando com delícias o bigode - porque tinha cortado a barba! Fora a grande admiração de Luísa, quando o viu. Ele explicara, com humilhação e melancolia, que tivera um furúnculo no queixo, com o calor...
- Mas que bem te fica! - tinha ela dito - que bem que te fica!
Jorge trouxera-lhe como presente seis pratos de louça da China, muito antigos, com mandarins bojudos, de túnicas esmaltadas, suspensos majestosamente no ar azulado; uma preciosidade que descobrira em casa de umas velhas miguelistas, em Mértola. Luísa dispunha-os muito decorativamente nas prateleiras guarda-louça; e em bicos de pés, com a larga cauda do seu roupão estendida por trás, a massa loura do cabelo pesado, um pouco desmanchado sobre as costas - parecia a Jorge mais esbelta, mais irresistível, e nunca a sua cinta fina lhe atraíra tanto os braços.
- A última vez que aqui almocei, antes de partir, foi um domingo, lembras-te?
- Lembro - disse Luísa sem se voltar, colocando muito delicadamente um prato.