CAPÍTULO IX Juliana voltara para casa de Luísa por conselhos da tia Vitória.
- Olha, minha rica - tinha-lhe ela dito -, não há que ver, o pássaro fugiu-nos! Suspira, bem podes suspirar que o dinheiro grosso foi-se! Quem podia adivinhar que o homem desarvorava! Não, lá isso podes tirar daí o sentido! Que escusas de esperar nem cheta...
- Também me regalo de mandar as cartas ao marido, tia Vitória!
A velha encolheu os ombros:
- Não lucras nada com isso. Ou que eles se desquitem, ou que ele lhe parta os ossos, ou que a mande para um convento - tu não ganhas nada. E se se acomodarem, mais ficas a chuchar no dedo, porque nem tens a consolação de fazeres a cizânia. E isto é, se as coisas correrem pelo melhor, porque podes muito bem ficar mas é em lençóis de vinagre com alguma carga de pau que eles te mandem dar. - E vendo um gesto espantado de Juliana: - Já não era o primeiro caso, minha rica, já não era o primeiro. Olha que em Lisboa, passa-se muita coisa, e nem tudo vem nos jornais!
Positivamente o que ela tinha a fazer era voltar para a casa. Por que enfim o que restava de tudo aquilo? O medo de D. Luísa; esse é que lá estava sempre a dar-lhe por dentro a cólica; desse é que era necessário tirar partido...
- Tu voltas para lá - dizia - à espera que ela cumpra o que prometeu. Se te dá o dinheiro, bem... Se não, tem-na em todo o caso na mão, estás de dentro da praça, sabes o que se passa, podes-lhe apanhar muita coisa...
Mas Juliana hesitava. - Era difícil viverem debaixo das mesmas telhas sem haver uma questão por dá cá aquela palha.
- Não te diz uma palavra, tu verás...
- Mas tenho medo...
- De quê? - exclamava a tia Vitória. Ela não era mulher para a envenenar, não é verdade? Então? Quem a nada se arriscava nada ganhava.