CAPÍTULO VI Foi Juliana que na manhã seguinte veio acordar Luísa, dizendo à porta da alcova com a voz abafada, em confidência:
- Minha senhora! Minha senhora! É um criado com esta carta; diz que vem do hotel.
Foi abrir uma das janelas, em bicos de pés; e voltando à alcova com uma cautela misteriosa:
- E está à espera da resposta, está à porta.
Luísa, estremunhada, abriu o largo envelope azul com um monograma - dois BB, um púrpura, outro ouro, sob uma coroa de conde.
- Bem, não tem resposta.
- Não tem resposta - foi dizer Juliana ao criado, que esperava encostado ao corrimão, fumando um grande charuto, e cofiando as suíças pretas.
- Não tem resposta? Bem, muito bom dia. - Levou o dedo secamente à aba do coco, e desceu, gingando.
Perfeito homem, foi pensando Juliana, pela escada da cozinha.
- Quem bateu, Sra. Juliana? - perguntou-lhe logo a cozinheira.
Juliana resmungou:
- Ninguém; um recado da modista.
Desde pela manhã a Joana achava-lhe o ar esquisito. Sentira-a desde às sete horas varrer, espanejar, sacudir, lavar as vidraças da sala de jantar, arrumar as louças no aparador. E com uma azáfama! Ouvira-a cantar a Carta adorada, ao mesmo tempo que os canários, nas varandas abertas, chilreavam estridentemente ao sol. Quando veio tomar o seu café à cozinha não palestrou como de costume; parecia preocupada e ausente.
Joana até lhe perguntou:
- Sente-se pior, Sra. Juliana?
- Eu? Graças a Deus, nunca me senti tão bem.
- Como a veio tão calada...
- A malucar cá por dentro... A gente nem sempre está para grulhar.
Apesar de serem nove horas não quisera acordar a senhora. Deixa-a descansar, coitada! - disse. Foi em pontas de pés encher devagarinho a bacia grande do banho,