Que era? Que tinha? Luísa não se dominou, rompeu choro nervoso, histérico.
- Mas que é, minha filha, que tens? Zangaste-te?...
Ela não podia responder, sufocada. Jorge fez-lhe respirar vinagre de toalete, beijou-a muito.
Só quando o choro acalmou é que ela pôde dizer, com voz soluçada:
- Falaste-me tão secamente, e eu estou tão nervosa...
Ele riu, chamou-lhe tontinha, limpou-lhe as lágrimas - mas ficou inquieto.
Já então lhe notara certas tristezas, abatimentos inexplicáveis, uma irritabilidade nervosa... Que seria?
Para que Jorge não tornasse a surpreender os desleixos, Luísa começou a completar todas as manhãs os arranjos. Juliana percebeu logo; e muito tranquilamente decidiu-se a deixar-lhe de cada vez mais com que se entreter. Ora não varria, depois não fazia a cama; enfim uma manhã não vazou as águas sujas. Luísa foi espreitar no corredor que Joana não descesse, não a visse, e fez ela mesma os despejos! Quando veio ensaboar as mãos, as lágrimas corriam-lhe pelo rosto. Desejava morrer!... A que tinha chegado!...
D. Felicidade, um dia, tendo entrado de repente, surpreendera-a a varrer a sala.
- Que eu o faça - exclamou - que tenho só uma criada, mas tu!...
- A Juliana tinha tanto que engomar...
- Ai! Não lhe tires serviço do corpo, que não to agradece. E ainda se ri por cima! Se a pões em maus costumes!... Que aguente, que aguente!
Luísa sorriu, disse:
- Ora, por uma vez na vida!
A sua tristeza aumentava cada dia.
Refugiava-se então no amor de Jorge como na sua única consolação. A noite trazia-lhe a sua desforra; Juliana a essa hora dormia; não via a sua cara medonha; não a receava; não tinha de a elogiar; não trabalhava por ela! Era ela mesma, era Luísa, como dantes! Estava