O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 296 / 414

recreios, os briosos moços, esperança da pátria, ou requebrando galanteios com as ternas camponesas que passam reflorindo de mocidade e frescura, ou revolvendo em suas mentes os problemas mais árduos de seus bem elaborados compêndios...

- Está a sopa na mesa - veio dizer uma criada, de avental branco, muito nutrida.

- Muito bem, Conselheiro, muito bem! - disse logo o Saavedra do Século, erguendo-se. - E admirável!

Declarou para os lados com autoridade que o estilo era digno de um Rebelo ou de um Latino, e que realmente estava-se precisando muito em Portugal de uma obra daquele quilate... E pensava baixo: "Grandíssima cavalgadura!..." O que era a sua apreciação genérica de todas as obras contemporâneas - excetuando os seus artigos no Século.

- Que lhe pareceu, meu bom amigo? - perguntou baixo o Conselheiro a Julião, passando-lhe a mão sobre o ombro. - Mas uma opinião desafrontada, meu Zuzarte!

- Sr. Conselheiro - disse Julião com uma voz profunda - tenho-lhe inveja! E as suas lunetas escuras fixavam-se com uma preocupação crescente num xale-manta pardo, que a um canto cobria cuidadosamente, a julgar pelas saliências, altas pilhas de livros. Que seria? - Tenho-lhe inveja! - repetiu. - E outra coisa, Conselheiro, não se me dava de lavar as mãos.

Acácio levou-o logo ao seu quarto e retirou-se discretamente. Julião, sempre curioso, observou, surpreendido, duas grandes litografias aos lados da cama - um Ecce homo! e a Virgem das Sete Dores. O quarto era esteirado, o leito baixo e largo. Abriu então a gavetinha da mesa de cabeceira, e viu, espantado, uma touca e o volume brochado das poesias obscenas de Bocage! Entreabriu os cortinados fechados; e teve a consolação de verificar que havia sobre o travesseiro duas





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