O Primo Basílio - Cap. 14: CAPÍTULO XIV Pág. 381 / 414

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Luísa então já dormia tranquilamente. Ao fim de uma semana os crescimentos desapareceram. Mas estava muito fraca: no dia em que pela primeira vez se levantou, desmaiou duas vezes; era necessário vesti-la, trazê4a amparada para a chaise longue; e não dispensava Jorge, queria-o ali, ao pé, com exigências de criança! Parecia receber a vida dos seus olhos, a saúde do contato das suas mãos. Fazia-lhe ler o jornal pela manhã, e vir escrever para ao pé dela. Ele obedecia, e mesmo aquelas instâncias eram para a sua dor como carícias consoladoras. É porque o amava decerto!

Sentia então, maquinalmente, abertas de felicidade. Surpreendia-se dizer-lhe ternuras, a rir com ela, esquecido, como dantes! E, estendida na chaise longue, Luísa, contente, percorria antigos volumes da Ilustração Francesa, que lhe mandara O Conselheiro - "onde", segundo ele lhe dissera, podia, ao mesmo tempo que se divertia com os desenhos, adquirir noções úteis sobre importantes acontecimentos históricos; ou, com a cabeça reclinada, saboreava a felicidade de melhorar, de estar livre das tiranias da outra, das amarguras do passado.

Uma das suas alegrias era ver entrar a Mariana com o seu jantarzinho disposto num guardanapo sobre o tabuleiro; tinha apetite, saboreava muito o cálice de vinho do Porto, que Julião recomendara; quando Jorge não estava, fazia longas conversações com Mariana, palrando baixo, consolada, e lambendo colherinhas de gelatina.

Às vezes, calada, com os olhos no teto, fazia planos. Dizia-os depois a Jorge: iria estar duas semanas no campo, para ganhar forças; à volta começaria a bordar tiras de casimira para cobrir as cadeiras da sala; porque queria ocupar-se muito da casa, viver recolhida; ele não voltaria ao Alentejo, não sairia de Lisboa, não é verdade? E a sua vida seria dai por diante de uma doçura contínua e fácil.





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