O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 73 / 414

Desceu discretamente. Juliana voltou logo a encostar-se à porta, a orelha contra a madeira, as mãos atrás das costas; mas a conversação, sem saliência de vozes; tinha um rumor tranquilo e indistinto. Subiu à cozinha.

- Tratam-se por tu! - exclamou. - Tratam-se por tu, Sra. Joana! E muito excitada:

- Isto vai à vela! Cáspite! Assim é que eu gosto delas!

O sujeito saiu às cinco horas. Juliana, apenas sentiu abrir-se a porta, veio a correr; viu Luísa no patamar, debruçada no corrimão, dizendo para baixo, com muita intimidade:

- Bem, não falto. Adeus.

Ficou então tomada de uma curiosidade que a alterava como uma febre. Toda a tarde, na sala de jantar, no quarto, esquadrinhou Luísa com olhares de lado. Mas Luísa, com um roupão de linho mais velho, parecia serena, muito indiferente.

- "Que sonsa!"

Aquela naturalidade despertava a sua bisbilhotice.

- "Eu hei de te apanhar, desavergonhada!" - calculava.

Afigurou-se-lhe que Luísa tinha os olhos um pouco pisados. Estudava-lhe as posições, os tons de voz. Viu-a repetir o assado - pensou logo:

- "Abriu-lhe o apetite"!

E quando Luísa ao fim do jantar se estendeu na voltaire com um ar quebrado.

- "Ficou derreada".

Luísa que nunca tomava café, quis nessa tarde "meia chávena, mas forte, muito forte".

- Quer café! - veio ela dizer à cozinheira, toda excitada. - Tudo à grande. E do forte. Quer do forte! Ora o diabo!

Estava furiosa.

- Todas o mesmo! Uma récua de cabras!

Ao outro dia era domingo. Logo pela manhã cedo, quando Juliana ia para a missa, Luísa chamou-a da porta do quarto, deu-lhe uma carta para levar a D. Felicidade. Ordinariamente mandava um recado; - e a curiosidade de Juliana acendeu-se logo diante daquele sobrescrito fechado e lacrado com o sinete de Luísa, um L gótico dentro de uma coroa de rosas.





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