O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 76 / 414

ainda não se fechara, e a sua luzita lúgubre como a estanqueira, estendia-se tristemente sobre a pedra miúda da rua; as janelas ao pé estavam abertas, por algumas, mal-alumiadas, viam-se dentro serões melancólicos; noutras, vultos imóveis, luzia às vezes a ponta de um cigarro; aqui, além tossia-se do padeiro; e o moço do padeiro, no silêncio quente da noite, harpejava baixinho a guitarra.

Juliana pusera um vestido de chita claro; dois sujeitos que estavam à porta riam, erguiam de vez em quando os olhos para a janela, para aquele de mulher: Juliana, então, gozou! Tomavam-na decerto pela senhora, pela do Engenheiro; faziam-lhe olho, diziam brejeirices... Um tinha calça branca e chapéu alto, eram janotas... E com os pés muito estendidos, os braços cruzados, de lado, saboreava, longamente, aquela consideração.

Passos fortes que subiam a rua, pararam à porta; a campainha retiniu de leve

- Quem é? - perguntou muito impaciente.

- Está? - disse a voz grossa de Sebastião.

- Saiu com a D. Felicidade; foram de carruagem.

- Ah! - fez ele.

E acrescentou:

- Muito bonita noite!

- De apetite, Sr. Sebastião! De apetite! - exclamou alto.

E quando o viu descer a rua, gritou, afetadamente:

- Recados a Joana! Não se esqueça! - mostrando-se íntima, madama, com olho terno para os homens.

Aquela hora D. Felicidade e Luísa chegavam ao Passeio.

Era benefício; já de fora se sentia o bruaá lento e monótono, e via-se uma névoa alta de poeira, amarelada e luminosa.

Entraram. Logo ao pé do tanque encontraram Basílio. Fez-se muito surpreendido, exclamou:

- Que feliz acaso!

Luísa corou; apresentou-o a D. Felicidade.

A excelente senhora teve muitos sorrisos. Lembrava-se dele, mas se não lhe dissessem talvez o não conhecesse! Estava muito mudado!

- Os trabalhos, minha senhora.





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