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Capítulo 1: Os crimes da Rua Morgue

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no corpo da velha senhora; estas considerações, além de outras que já mencionei e de outras que não preciso de mencionar, bastaram para paralisar as autoridades e derrotar completamente a tão gabada perspicácia. Caíram no erro grave, embora vulgaríssimo, de confundir o extraordinário com o abstruso. Mas é precisamente seguindo estes desvios do curso normal da natureza que a razão encontra o caminho da verdade. Em investigações deste tipo não importa tanto saber «o que aconteceu» como «aquilo que aconteceu nunca tinha acontecido até hoje». De facto, a facilidade com que chegarei, ou cheguei já, à solução deste mistério está na razão directa da sua insolubilidade aos olhos da polícia.

Olhei para o meu amigo num espanto mudo.

- Espero agora - disse este, olhando para a porta do apartamento -, espero uma pessoa que, embora não sendo talvez o autor desta carnificina, deve estar de certo modo implicado nela. Da parte pior dos crimes cometidos é provável que esteja inocente. Espero que esta minha suposição esteja certa; porque nela se baseia a minha esperança de decifrar o enigma. O homem deve vir aqui (a este quarto) de um instante para o outro. É verdade que pode não vir; mas a probabilidade é que venha. Nesse caso é preciso detê-lo. Estão aqui umas pistolas; e ambos sabemos como usá-las se a ocasião o exigir.

Peguei nas pistolas, sem bem saber o que fazia e sem acreditar no que ouvia, enquanto Dupin continuava como num solilóquio. Já mencionei os seus modos distraídos em momentos destes. As suas palavras eram-me dirigidas; mas a voz, embora o seu tom fosse baixo, tinha aquela entoação própria de quando se fala a uma grande distância. Os seus olhos, inexpressivos, estavam fitos na parede.

- Está mais que provado- disse ele - que as vozes que se ouviram a discutir não eram das duas mulheres.

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Capa do livro Os Crimes da Rua Morgue
Páginas: 42
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Os capítulos deste livro:
Os crimes da Rua Morgue 1