Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 25 / 42

Que devemos procurar em primeiro lugar? Os meios de evasão utilizados pelos assassinos. Não é de mais dizer que nenhum de nós acredita em intervenções sobrenaturais. Madame e Mademoiselle L’Espanaye não foram mortas por espíritos. Os autores do crime eram materiais e fugiram materialmente. Como, então? Felizmente só existe um modo de raciocinar sobre esse assunto e esse modo levar-nos-á inevitavelmente a uma conclusão positiva. Examinemos, pois, um a um, os meios possíveis de evasão. É óbvio que os assassinos se encontravam no quarto em que foi descoberto o corpo de Mademoiselle L’Espanaye ou, pelo menos, no quarto pegado quando o grupo subiu as escadas. É nessas duas divisões que temos de procurar as saídas. A polícia examinou o chão, as paredes e o tecto centímetro por centímetro. Nenhuma saída secreta poderia ter-lhe escapado. Mas, desconfiando dos olhos deles, eu próprio reexaminei tudo. Não havia, pois, passagens secretas. As duas portas que davam para o corredor estavam fechadas com a chave por dentro. Vejamos as chaminés. Estas, embora sejam de uma largura normal até à altura de oito ou dez pés acima do fogão, daí para cima já não dariam passagem a um gato grande. Sendo a fuga impossível por esses dois meios, resta-nos apenas a hipótese das janelas. Pelas da frente ninguém poderia ter saído sem ser visto pela multidão que se juntara na rua. Os assassinos só podem, pois, ter saído pelas janelas das traseiras. Uma vez que chegamos a esta conclusão de uma forma tão irrefutável, não temos direito, como seres pensantes que somos, a rejeitá-la, só porque nos parece impossível. Resta-nos provar que essas aparentes «impossibilidades» não são na realidade impossíveis.

»O quarto tem duas janelas. Uma delas não está obstruída pela mobília, sendo perfeitamente visível.





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