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Capítulo 1: Os crimes da Rua Morgue

Página 38
Sei perfeitamente que está inocente das atrocidades da Rua Morgue. Mas não lhe adianta negar que está, de certo modo, implicado no crime. Aquilo que lhe disse já o deve ter convencido de que obtive informações sobre o assunto por meios que o senhor nem sequer sonha. Ora bem, as coisas estão neste pé. O senhor não fez nada que pudesse ter sido evitado, nada com certeza que o torne culpado. Nem sequer pode ser acusado de roubo, e podia ter roubado impunemente. Não tem nada a esconder, nem razões para o fazer. Por outro lado, o mais elementar princípio de honra obriga-o a confessar tudo o que sabe. Um homem inocente está preso neste momento, acusado de um crime cujo autor o senhor pode apontar.

O marinheiro recuperara a sua presença de espírito enquanto Dupin falava, mas toda a sua audácia primitiva desaparecera.

- Assim Deus me ajude - disse, depois de uma breve pausa. - Vou dizer-lhe tudo o que sei sobre o assunto, mas não espero que acredite em metade sequer. Tolo seria eu se o fizesse. Mas o que é certo é que estou inocente, e diabos me levem se não vou pôr tudo em pratos limpos.

Eis o que o homem nos contou em suma: tempos atrás fizera uma viagem ao arquipélago indiano. Um bando de marinheiros de que ele fazia parte desembarcou em Bornéu e aventurou-se no interior numa excursão de recreio. Ele e um companheiro capturaram o orangotango. Este companheiro morreu e o orangotango ficou sendo propriedade exclusiva sua. Depois de muitos sarilhos causados pela ferocidade indomável do animal durante a viagem, conseguiu por fim alojá-lo na sua casa em Paris, onde, para não atrair a curiosidade desagradável dos vizinhos, o manteve encerrado até ele se curar completamente de uma ferida provocada por uma farpa de madeira do barco.

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Capa do livro Os Crimes da Rua Morgue
Páginas: 42
Página atual: 38

 
   
 
   
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Os crimes da Rua Morgue 1