Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 41 / 42

Com um golpe vibrado com toda a força quase lhe separou a cabeça do tronco. A vista do sangue enlouqueceu-o. Rangendo os dentes, e com os olhos faiscantes, atirou-se para a rapariga, cravou-lhe as garras no pescoço e assim se manteve até ela expirar. Os olhos desvairados e selvagens fixaram-se nesse momento na cabeceira da cama, acima da qual reconheceu a cara do dono petrificada de horror. A fúria da besta que sem dúvida se lembrava ainda do chicote, transformou-se instantaneamente em medo. Consciente de que merecia ser castigado, pareceu querer ocultar os vestígios sangrentos dos seus actos, saltando pelo quarto numa grande agitação, despedaçando tudo e arrancando os colchões da cama. Para terminar, agarrou no corpo da filha e enfiou-o na chaminé na posição em que foi encontrado; depois atirou o da velha senhora para o pátio através da janela aberta.

Quando o macaco se aproximou da janela com o seu fardo todo mutilado, o marinheiro atónito deixou-se escorregar pelo cabo abaixo e correu para casa, apavorado com as consequências da carnificina, sem se preocupar com o destino que teria o seu orangotango. As palavras ouvidas pelas testemunhas eram as suas exclamações de horror e espanto, misturadas com os guinchos diabólicos do animal.

Pouco mais tenho a acrescentar. O orangotango deve ter fugido do quarto, pelo pára-raios, antes de a porta ser arrombada. Ao sair pela janela deve tê-la fechado. Mais tarde foi apanhado pelo proprietário, que o vendeu por bom preço ao Jardim des Plantes. Le Bon foi libertado imediatamente depois de se ter relatado o caso (com alguns comentários feitos por Dupin) ao prefeito da polícia. Este funcionário, embora se tivesse mostrado muito amável para com o meu amigo, não conseguiu dissimular o mau humor que lhe causou a forma como o caso fora solucionado, comentando sarcasticamente que havia importunos que andavam sempre a meter o nariz onde não eram chamados.





Os capítulos deste livro