São diferentes. A única maneira como posso descrever o jovem Anson Hunter é abordá-lo como se fosse um estranho e manter teimosamente o meu ponto de vista. Se por um momento aceitar o seu, estou perdido - nada tenho para apresentar senão um filme absurdo.
II
Anson era o mais velho de seis filhos que um dia iriam dividir uma fortuna de quinze milhões de dólares, e atingiu a idade da razão - serão os sete anos? - no princípio do século, quando as jovens mais ousadas já se passeavam pela Quinta Avenida em veículos «móveis» eléctricos. Nesses tempos ele e o irmão tinham uma governanta inglesa que falava a língua com grande clareza, concisão e acerto, por isso os dois rapazes cresceram a falar como ela; as palavras e as frases eram concisas e claras, e não atrapalhadas como as nossas. Não falavam exactamente como as crianças inglesas, mas adquiriram o sotaque peculiar da gente bem da cidade de Nova Iorque.
- No Verão as seis crianças mudaram-se da casa da Rua 71 para uma grande propriedade no norte de Connecticut. Não era uma localidade elegante; o pai de Anson queria adiar tanto quanto possível o momento em que os filhos conhecessem esse lado da vida. Era um homem um tanto superior à sua classe, que constituía a sociedade de Nova Iorque, e à sua época, que representava a vulgaridade snob e formalista da Idade Dourada. Desejava que os filhos aprendessem hábitos de concentração e tivessem sólidas constituições físicas e viessem a ser homens de bem e de sucesso. Ele e a mulher vigiaram-nos enquanto puderam até os dois mais velhos irem para a escola, mas numa casa grande isso é difícil; era muito mais fácil nas casas pequenas e de tamanho médio em que passei a minha juventude: nunca estava longe do alcance da voz da minha mãe, da noção da sua presença, da sua aprovação ou desaprovação.