II
«No sábado, há três dias»
A cortina de pelúcia do confessionário compôs as suas pregas escuras, deixando à vista apenas a ponta do sapato do velhote. Por trás da cortina, uma alma imortal estava sozinha com Deus e com o Reverendo Adolphus Schwartz, padre da paróquia. Começou o diálogo, um sussurrar laborioso, sibilante e discreto, interrompido de vez em quando pela voz do padre em perguntas audíveis.
Rudolph Miller estava ajoelhado no banco ao lado do confessionário e esperava, esforçando-se nervosamente por perceber e, no entanto, não perceber o que se dizia lá dentro. O facto de o padre se ouvir alarmava-o. A seguir era a sua vez e os outros três ou quatro que estavam à espera podiam escutar sem escrúpulos, enquanto ele admitia que tinha violado o Sexto e o Nono Mandamento.
Rudolph nunca cometera adultério, nem sequer desejara a mulher do próximo, mas era a confissão dos pecados que lhes estavam ligados que era especialmente difícil de encarar. Em comparação, não estava preocupado com as faltas menos vergonhosas; formavam um fundo acinzentado que atenuava as marcas negras de ofensas sexuais que tinha na alma.
Tinha estado a tapar os ouvidos com as mãos, esperando que a sua recusa de ouvir fosse notada, e lhe retribuíssem com igual cortesia, quando um movimento brusco do penitente lá dentro do confessionário o fez esconder precipitadamente a cara na curva do cotovelo.