Isto para esconder o alívio por alguém ter entrado naquele compartimento lúgubre.
Daí a pouco voltou-se e viu-se a mirar dois olhos enormes, iluminados por pontos brilhantes de luz de cobalto. Por um momento a expressão deles assustou-o; depois compreendeu que o visitante estava num abjecto estado de terror.
- Tens a boca a tremer - disse o Padre Schwartz com voz perturbada.
O rapazinho tapou com a mão a boca trémula.
- Estás aflito? - perguntou o Padre Schwartz bruscamente. - Tira a mão da boca e conta-me o que se passa.
O rapaz - o Padre Schwartz já o reconhecera como o filho de um paroquiano, Mr. Miller, o agente transitário - tirou a mão da boca com relutância e começou a falar num murmúrio de desespero.
- Padre Schwartz, cometi um pecado terrível.
- Um pecado contra a castidade?
- Não, Padre... pior.
O corpo do Padre Schwartz estremeceu. - Mataste alguém?
- Não. Mas receio que - a voz elevou-se numa lamúria estridente.
- Queres ir para o confessionário?
O rapazinho abanou a cabeça com ar lastimoso. O Padre Schwartz aclarou a voz para que ficasse suave e pudesse dizer qualquer coisa calma e afável. Neste momento tinha de esquecer a sua própria agonia e tentar actuar como Deus. Repetiu para si uma oração esperando que, em troca, Deus o ajudasse a agir correctamente.
- Conta-me o que fizeste - disse na sua nova voz suave.
O rapazinho olhou para ele através das lágrimas e ficou encorajado pela impressão de elasticidade moral que o austero padre criara. Abandonando-se tanto quanto era capaz àquele homem, Rudolph Miller começou a contar a sua história.
- No sábado, há três dias, o meu pai disse-me que eu tinha de ir confessar-me, porque já não me confessava havia um mês, e a família vai todas as semanas e eu não.